A encenação, que se passa em Auschwitz, tem direção de Hugo Coelho e elenco formado por Marco Antônio Pâmio, Marat Descartes, Regina Maria Remencius, Rafael Losso, Walter Breda, Fernando Vítor, Marcos Suchara, Wesley Guindani e Heloisa Rocha. Este projeto foi contemplado pela 17ª Edição do Prêmio Zé Renato, da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo.
O enredo de As Aves da Noite parte da história real do padre franciscano Maximilian Kolbe que, em um campo de concentração nazista de Auschwitz, apresentou-se voluntariamente para ocupar o lugar de um judeu sorteado para morrer no chamado “porão da fome” em represália à fuga de um prisioneiro. Segundo o diretor Hugo Coelho, “esta é uma versão contemporânea do texto de Hilda. Não é uma reconstituição de Auschwitz, partimos de Auschwitz. O espetáculo é um grito contra a barbárie, contra o fascismo que usa a violência como instrumento de ação política”.
No porão da fome, a autora coloca em conflito os prisioneiros condenados a morrer na cela: o Padre, o Carcereiro, o Poeta, o Estudante e o Joalheiro, que são visitados pelo Oficial da SS, pela Mulher que limpa os fornos e por Hans, o ajudante da SS. Na montagem, eles aparecem isolados, confinados em gaiolas como um signo, uma alusão à prisão onde a história se passa. “A primeira coisa que os governos totalitários e ditatoriais fazem ao prender alguém é destituí-lo de sua dignidade e submetê-lo ao sofrimento extremado, e isso os nazistas fizeram com requintes inimagináveis de crueldade”, comenta o diretor. Segundo ele, a proposta de concepção de Hilda Hilst é muito clara, colocando as personagens em estado de reflexão sobre suas próprias condições no confinamento. A leitura que a autora faz dos aspectos éticos e humanos passam por questionamentos sobre Deus, sobre o mal e sobre a crueldade.
Nos diálogos estão o embate entre a vida e o que lhes resta, os devaneios entre desespero e delírio. O Poeta declama como se morto estivesse, o Estudante sonha com outro tempo, o Joalheiro ainda lembra-se da magnitude das pedras, enquanto a Mulher é humilhada em sua condição inferior. O Carcereiro, mesmo sendo um condenado, ironiza a condição dos demais e os trata com escárnio; o SS os chama de porcos e os agride e menospreza, enquanto o estado de debilidade emerge da vida e da já não existência desses humanos subjugados.
O cenário, que traduz o cárcere com gaiolas humanas, foi concebido pelo diretor. O figurino (de Rosângela Ribeiro) faz alusão aos uniformes de presidiários, reforçando a imagem do encarceramento. A iluminação (de Fran Barros) dá foco a cada personagem, reforça o clima denso e claustrofóbico do ambiente, privilegiando o espaço teatral. A trilha sonora, assinada por Ricardo Severo, traz uma canção original do texto que remete à tradição judaica, cantada pelas personagens, e segue a mesma orientação da iluminação.
Hugo Coelho afirma que o propósito do espetáculo é trazer à cena o discurso poderoso e contundente de Hilda Hilst. “As Aves da Noite nos faz encarar toda a barbárie do poder, do domínio, do autoritarismo, das torturas nos porões das ditaduras. Auschwitz é uma ferida aberta na humanidade para a qual é difícil encontrar palavras que a qualifique. As Aves da Noite mostra o reverso, o outro rosto da humanidade, perverso, doente e profundamente violento. Não podemos permitir que a violência e a barbárie continuem sendo normatizadas ao longo da história. Por isso essa obra, de extrema qualidade literária, é tão importante para o momento em que vivemos”, finaliza o encenador.
As Aves da Noite, idealizado pelo produtor Fábio Hilst, teve sua primeira temporada apresentada virtualmente, devido à pandemia da covid-19. Foi gravado em vídeo, 80 anos após a morte de Maximilian Kolbe, exatamente no momento em que o mundo vivia uma experiência de confinamento. Kolbe morreu em Auschwitz, em 1941, e foi canonizado em 1982, pelo Papa João Paulo II. São Maximiliano é considerado padroeiro dos jornalistas e radialistas e protetor da liberdade de expressão.
Serviço
Espetáculo: As Aves da Noite
Duração: 75 min. Gênero: Drama. Classificação: 16 anos.
CEU Alvarenga
Dia 13 de junho – Quinta, às 20h
Estr. do Alvarenga, 3752 – Balneário São Francisco. São Paulo/SP.
Apresentação seguida de bate-papo com o público.
Ingressos: Gratuitos – Retirada no local. Tel.: (11) 5672-2500.
TEATROS
Teatro Cacilda Becker
Até 2 de junho – Sextas e sábados, às 21h, e Domingos, às 19h.
Rua Tito, 295 – Lapa. São Paulo/SP.
Tel.: (11) 3864-4513. Capacidade: 198 lugares.
26/05 (domingo) – Intérprete de Libras, audiodescrição e bate-papo com o público.
Teatro Arthur Azevedo
De 6 a 9 de junho – Quinta a sábado, às 21h, e Domingo, às 19h.
De 14 a 16 de junho – Sexta e sábado, às 21h, e Domingo, às 19h.
Av. Paes de Barros, 955 – Alto da Mooca. São Paulo/SP.
Tel.: (11) 2604-5558. Capacidade: 349 lugares.
09/06 (domingo) – Intérprete de Libras, audiodescrição e bate-papo com o público.
Teatro Paulo Eiró
De 20 a 23 de junho – Quinta a sábado, às 21h, e Domingo, às 19h.
De 28 a 30 de junho – Sexta e sábado, às 21h, e domingo, às 19h.
Avenida Adolfo Pinheiro, 765 – Santo Amaro. São Paulo/SP.
Tel.: (11) 5546-0449. Capacidade: 467 lugares.
23/06 (domingo) – Intérprete de Libras, audiodescrição e bate-papo com o público.