Reflexões sobre o amadurecimento a partir do texto clássico de Samuel Beckett, Esperando Godot, são o ponto de partida do sensível espetáculo infantil Hoje, Godot Não Vem!, da Cia Caravan Maschera de Teatro. A peça faz uma temporada gratuita na CAIXA Cultural São Paulo (Praça da Sé, 111, Centro, São Paulo, SP) entre os dias 2 e 10 de dezembro.
Na trama, duas crianças estão no deserto acompanhadas de uma árvore solitária, à espera de Godot. Enquanto aguardam, sem saber direito o que ou quem é Godot, os pequenos passam a refletir sobre tornar-se adulto e o ato da espera.
“Durante a pandemia de Covid-19, nos anos de 2020 e 2021, a ideia da espera transmudou todos os indivíduos do planeta para sempre. Isso aumentou a nossa vontade de falar sobre o fato de que ‘as gaiolas estão em todos os lugares, mas nem sempre se pode ver até onde as grades alcançam’. Afinal, no período de confinamento, todos ficamos ansiosos pela liberdade”, conta o diretor Leonardo Garcia Gonçalves.
Tornar-se adulto
Com essas questões em mente, o diretor e autor da adaptação começou a pensar sobre o impacto de uma longa espera nas crianças. Leonardo se lembrou, por exemplo, de que, na infância, sempre ganhava sapatos maiores do que os seus pés, para que eles pudessem ser usados por mais tempo. “Eu ficava muito angustiado e um dia fiz várias perguntas para a minha mãe: e se eu não crescer o bastante? Ou se eu crescer mais do que os sapatos? E se os sapatos me apertarem quando eu crescer?”, afirma.
Em meio às reminiscências, para o espetáculo Hoje, Godot Não Vem!, a Cia Caravan Maschera estabeleceu uma relação entre a espera pelo pé crescer de forma correta e essa expectativa de virar logo adulto e, consequentemente, ser independente. O coletivo quis adicionar outra camada a essa ansiedade: a pressão que os próprios pais e mães fazem nos seus filhos e filhas, projetando suas angústias e desassossegos na tentativa de controlar o futuro das crianças.
Todas essas aflições são trazidas para a cena de maneira lúdica. Por cerca de uma hora, adultos e crianças mergulham em um mundo diferente, regido mais pela subjetividade e menos pela lógica. Trata-se de um momento para dar vazão à intuição e à livre interpretação, essas grandes criadoras de sentidos.
Sobre a encenação
Nesse contexto, o grupo utiliza a linguagem do teatro de bonecos para se conectar com o público a partir de uma atmosfera enigmática e existencialista da peça. Os personagens são inspirados nas obras do pintor surrealista belga René Magritte e foram todos desenvolvidos por Leonardo Garcia Gonçalves, Giorgia Goldoni, Orlando Talarico e Kledir Salgado.
São nove bonecos construídos para a narrativa. Apenas os dois que representam as crianças que esperam Godot têm falas, dando forma aos seus anseios relacionados à solidão, à morte, ao tornar-se adulto e à autoaceitação. Os outros contribuem para o clima onírico da montagem. “Os protagonistas percebem diferenças entre si, como os cabelos, o brilho nos olhos em relação aos adultos e o fato de um não gostar de usar sapato e outro não se importar com seus sapatos grandes demais. Assim, querem se sentir acolhidos”, comenta o diretor. Os atores Leonardo Garcia Gonçalves e Rafael Salgado dão vida a todos esses seres.
Para potencializar a atmosfera reflexiva e intimista, a Cia Caravan Maschera inclui no cenário projeções em vídeo que exploram a técnica de stop motion. Essas imagens foram produzidas pelo Estúdio ANIM’ARTE –Venezia.
A luz, desenhada por Corentin Praud, trabalha muito com a noção de claro e escuro, dando mais destaque aos bonecos e criando volume a partir de cores distintas. Tons de amarelo e rosa são bastante utilizados e evocam ternura e alegria.
A trilha sonora original, composta exclusivamente para o espetáculo, é assinada por Rafael Vanazzi, que criou melodias levando em consideração a ideia de tempo dilatado, ou seja, incluir alguns momentos de silêncio para deixar espaço para a imagem/ação acontecer. Há também quatro canções com letras de Leonardo Garcia Gonçalves e arranjos criados por Luisa Albuquerque e Rafael Salgado.
Sinopse espetáculo infantil da Cia Caravan Maschera Teatro conta a história de duas crianças que estão no deserto, acompanhadas de uma árvore solitária, à espera de Godot. Mas, o que seria Godot? E por que o esperam? Imagens poéticas, bonecos inspirados em René Magritte e projeções em stop motion sugerem respostas e intuições sobre questões profundas da vida e do ato de tornar-se adulto.
Sobre a Cia Caravan Maschera Teatro
A Cia Caravan Maschera Teatro foi fundada em 2010. No início de suas pesquisas, a Cia trilhou os caminhos enigmáticos que oscilam entre a máscara, o palhaço, o bufão e os bonecos.
Iniciou em 2012 seus primeiros trabalhos no Brasil, na zona rural da cidade de Atibaia, interior de São Paulo. Desde o início, estabelecem como princípio de criação de espetáculos uma interação constante com a comunidade que os cerca por meio de oficinas, cursos de formação e residências artísticas com artistas de diversas regiões do Brasil e do exterior.
Até hoje, a Cia Caravan Maschera Teatro criou nove espetáculos que já circularam por 12 estados do Brasil e o Distrito Federal, além de ter participado de festivais internacionais na França, Itália, Eslovênia e Suíça.
SERVIÇO:
Hoje, Godot Não Vem!
Local: CAIXA Cultural São Paulo – Praça da Sé, 111 – Centro – São Paulo/SP (próxima à estação Sé do Metrô).
Data: De 2/12 a 10/12/2023. Quinta, sexta e domingos, às 17h; sábados, às 11h e às 17h.
Entrada Franca: Os ingressos serão distribuídos 1h antes da peça, limitados a um par por pessoa.
Duração: 65 minutos
Classificação indicativa e/ou Público-Alvo: 10 anos
Acesso a pessoas com deficiência
Informações: (11) 3321-4400 | https://www.caixacultural.gov.br
Patrocínio: CAIXA e Governo Federal