O projeto de capacitação profissional e frente de trabalho da Prefeitura de São Paulo, destinado a pessoas em situação de rua, conta com incentivo para a retomada dos estudos.
Cerca de 20 beneficiários do POT – Programa Operação Trabalho da Prefeitura de São Paulo retomaram, no final de junho, os estudos em curso do CIEJA – Centro Integrado de Educação de Jovens e Adultos, da rede municipal de ensino. Os beneficiários são provenientes de outra iniciativa da administração municipal, o Bolsa Trabalho, que teve duração de oito meses, em parceria com o Governo do Estado de São Paulo, e que agora integram o POT Oportunidades, voltado à população em situação de rua.
“O POT existe para amparar cidadãos da cidade de São Paulo que estão desempregados há um longo período e com dificuldade de se reinserir no mercado de trabalho. Nos concentramos naqueles que vivem com uma renda muito baixa, com poucas oportunidades, em vulnerabilidade social, incluindo pessoas em situação de rua”, declara a secretária municipal de Desenvolvimento Econômico e Trabalho, Aline Cardoso. “Nosso trabalho mostra que, com incentivo e persistência, essas pessoas são capazes de mudar o rumo de suas vidas e de quebrar ciclos de pobreza. A elevação da escolaridade é um dos caminhos, pois amplia as chances de conquistar uma vaga de emprego”, conclui.
Acompanhados pela equipe técnica da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e Trabalho, os participantes do Programa Operação Trabalho compareceram ao Cieja, do bairro Cambuci, e conheceram o local das aulas. Além de entrega dos documentos para a matrícula, os beneficiários passaram por uma prova de nivelamento. O teste determinou a série de cada aluno, em sua maioria no ensino fundamental, o que já permitiu o início das atividades. O grupo ainda foi orientado, pela coordenação da unidade, sobre benefícios como o Bilhete Único para o uso do transporte público e ajuda de custo para compra de materiais escolares.
Volta à escola
Dentro do programa, de segunda a sexta-feira, os beneficiários do POT Oportunidades atuam em ações de zeladoria, manutenção e organização administrativa nas dependências da Coordenadoria do Trabalho da Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Trabalho e também na unidade central do Cate – Centro de Apoio ao Trabalho e Empreendedorismo.
Um dos beneficiários, Otonilton dos Santos, contou sobre esse processo em sua vida. “Meses atrás, quando fiquei sabendo da oportunidade do Bolsa Trabalho aceitei de cara. Acreditei, cooperei e não faltei um dia. Quem está aqui agora no POT são os que mais se destacaram lá, que se dedicaram mesmo”.
Muitos dos integrantes também estão em situação provisória de moradia, como casas de acolhida, albergues ou hotéis sociais. Izael Ferreira, que mora em São Paulo há 35 anos trabalhando como vendedor ambulante, chegou a passar quatro anos em situação de rua após o início da pandemia de Covid-19. “A vida para a gente é um tipo de sobrevivência. Uma luta a cada dia, principalmente em uma cidade grande como essa. Mas tenho muito gratidão às pessoas que nos apoiaram e continuam apoiando”, conta. “Sinto que, depois que surgiu essa pandemia, o governo, o poder público começou a olhar mais para as pessoas em situação de vulnerabilidade. Agora, como a oportunidade está surgindo, estamos abraçando, aproveitando toda a capacitação, o conhecimento dos profissionais que estão aqui realizando os projetos”, complementa.
Grande parte dos beneficiários relata que já havia tentado retomar a formação escolar antes, mas tiveram que interromper. É o caso de Irani Flausino, que tem um filho de 23 anos e explica os desafios que foi conciliar a vida de mãe solteira, trabalhadora e estudante. “Eu sempre quis terminar os estudos, mas nunca tive uma oportunidade. Ou eu escolhia uma coisa ou outra. Antes, sendo sozinha, eu trabalhava, tinha que cuidar do meu filho, não tinha ninguém com quem deixá-lo. Agora, como eu estou no hotel social e ele já é um rapazinho, então dá para voltar”.
A falta de escolaridade foi citada como um dos maiores fatores que dificultavam a vida dos membros do POT Oportunidade. “A minha mãe me alimentava, mas ou ela colocava a comida em casa ou me dava educação. Como fui criado sem pai, não tinha uma pessoa para me instruir, dar acompanhamento na escola. Então, até hoje eu me arrependo de oportunidades que acabei perdendo por não saber ler”, refletiu também Otonilton dos Santos. “Eu tenho dois filhos. Um completou 17 e o outro tem 10. Agora, o que eu não tive para mim quero dar para eles”.
Na visita ao CIEJA, o clima era de empolgação. João Armando, que está desempregado há mais de 10 anos, contou que o projeto o faz sentir esperançoso. “Estou ansioso para retomar os estudos. Não gosto de ficar parado, não vejo a hora de ocupar a mente. Eu já fui viciado, mas hoje em dia, graças a Deus, sou recuperado. Não foi de um dia para o outro, mas estou dando todos os passos para me manter bem”.
Programa Operação Trabalho
O POT – Programa Operação Trabalho da Prefeitura de São Paulo, administrado pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e Trabalho, possui 13 projetos vigentes, com cerca de seis mil beneficiários. O cidadão é integrado à iniciativa ao atender exigências como renda per capita por família, ser morador da Capital, estar desempregado e sem receber benefícios como o seguro-desemprego, entre outros. O programa inclui capacitação profissional e atividades em frentes de trabalho em atividades de zeladoria, manutenção, suporte organizacional e administrativo. O programa oferece uma bolsa mensal que varia conforme a carga horária, entre quatro e seis horas diárias, respectivamente com auxílio nos valores de R$ 923,95 e de R$ 1.386. A permanência no programa é de até dois anos.
Serviço
Informações neste link sobre o CIEJA – Centro Integrado de Educação de Jovens e Adultos: https://educacao.sme.prefeitura.sp.gov.br/educacao-de-jovens-e-adultos-eja/